A pandemia mudou a forma de as pessoas se relacionarem, acelerou a transformação da tendência do ensino à distância em realidade imediata e provocou uma explosão de transtornos mentais e psicológicos em todo o mundo. Nesse Janeiro Branco, mês dedicado à saúde mental, o CadaMinuto conversou com o psicólogo Carol Costa, do Sistema Hapvida, sobre as mudanças provocadas nas relações e comportamentos e sobre como lidar com o “novo normal”.
“Jamais a humanidade será a mesma. Sem sombra de dúvida. Esse momento pandêmico serviu para mostrar o quanto somos frágeis, mas também o quanto somos fortes. Mudou a forma como a gente se relaciona inclusive com o mundo e o que era a tendência virou realidade, a exemplo do ensino à distância, assim como o comércio teve que se adaptar também, e a interação com as pessoas”, analisou o psicólogo.
Sobre as relações amorosas, Carol apontou que, durante a pandemia, houve um aumento vertiginoso de separações, mas embora muitas pessoas tenham desistido dos seus relacionamentos, elas não desistiram de amar, o que gerou também uma adesão “fenomenal” aos aplicativos de relacionamentos, reforçando definitivamente o papel da tecnologia nesses novos tempos.
“As pessoas desistiram dos seus cônjuges, seus parceiros e parceiras, mas não do amor, que é uma condição humana”, afirmou, avaliando que, ao mesmo tempo, os sentimentos mais profundos estão cada vez mais banalizados. “Os interesses mudaram, os valores também, a própria família nuclear sofreu suas mudanças e com isso abriu margens de interpretação, de convivência e de conduta das formas mais variadas… O amor prevalece, então, as pessoas tendem a dar importância aquilo que que fazem com que elas se sintam bem. E a tecnologia, ela vem justamente para contemplar toda essa toda essa gama e essa ânsia do amor”.
Para Carol, a tecnologia pode ser usada inclusive no enfrentamento a um fenômeno que está entre os problemas psicológicos e emocionais agravados – ou trazidos – pela pandemia. O fenômeno que já ganhou até nome, Fear Of Dating Again (ou F.O.D.A, em inlgês), é o medo de namorar novamente: “Use a tecnologia a seu favor. Videochamadas e conversas por telefone podem ajudar nesse processo, já que dão uma ideia melhor das características do parceiro”.
Transtornos mentais
Em relação ao aumento dos transtornos mentais, o especialista lembra que o indivíduo pode nascer com eles ou desenvolvê-los em razão de fatores como excesso de trabalho e alto nível de estresse, como o provocado pelo processo pandêmico, que serviu de gatilho para que muitos casos de depressão, síndrome do pânico, síndrome da caverna (caracterizada pelo medo de sair de casa ou interagir socialmente) e até a síndrome de Tourette (envolve os chamados “tiques nervosos” ou sons indesejados), que é mais rara, entre outras doenças.
O transtorno mental afeta a qualidade de vida, o trabalho e requer tratamento, mas como saber em que momento, exatamente, devemos buscar um especialista, seja psiquiatra, psicólogo ou ambos?
“Quando isso começa atrapalhar a nossa vida, quando a gente já não consegue mais viver bem, fazer as atividades antes comuns… Por exemplo, uma coisa é eu não gostar de comprar pão, outra coisa é não conseguir ir comprar o pão, é diferente. Então, a partir do momento que isso começa a atrapalhar a nossa vida, é um sinal indicativo de que a gente precisa de ajuda”, respondeu.
O profissional também chamou a atenção para o aumento dos casos de transtorno obsessivo compulsivo (TOC) relacionados à limpeza. “Com o retorno das atividades presenciais, não saberemos quem está se cuidando da forma correta e não conseguiremos ter o controle total da higiene do local. A diferença entre um cuidado comum e o TOC é a influência do pensamento intrusivo, ou seja, a sensação negativa causada pela ideia de sujeira que faz o indivíduo se limpar”, explica.
Ansiedade e medo
Outro problema cada vez mais comum, as crises de ansiedade podem trazer sintomas como falta de ar, facilmente confundidos com os sintomas da própria Covid-19. “Ansiedade e depressão andam de mãos dadas e provocam a chamada psicossomatização, que é quando o corpo começa a reagir, então vamos ter não só a falta de ar, mas também tonturas, dores no corpo, sudorese, insônia, irritabilidade”, prosseguiu Carol.
“De repente estávamos vivendo nossas vidas e do nada o inimigo invisível surgiu, cruzou fronteiras, oceanos… Para as pessoas mais sensíveis, só o simples fato dele ser invisível já aumenta a ansiedade, que perdura”, destacou.
Para lidar com isso, o psicólogo explica que primeiro é preciso entender se o que você está sentindo é patológico: “Há necessidade realmente dessa preocupação toda, se você segue as orientações das autoridades sanitárias? Você acha que vai morrer de hoje pra amanhã ou se você sair na rua vai morrer? Claro que todos temos que nos cuidar, porém temos que saber o que é real e o que é patológico. O medo faz parte do da vida do ser humano, mas ele não pode lhe incapacitar, lhe paralisar, aí ele se torna patológico e já caminha para o estado de fobia.”.
Além da busca por ajuda especializada, principalmente por atendimento psicológico, o especialista cita ainda a importância de buscar atividades prazerosas, estar mais próximo às pessoas amadas, ler bons livros, fazer um curso, e descobrir uma válvula de escape (quem sabe estimular o descobrir uma inclinação artística) como formas de controlar a ansiedade.